25.2.12

A planta que queria um filho

24.2.12

Observação 15

Algumas ruas são inimigas do descanso, preenchidas de tudo que estorva, andar por elas é um exercício. Ou se olha para o chão para não pisar ou tropeçar ou para a frente para evitar beijar postes e outros acessórios desnecessários. Nestas a distracção é um risco mais ou menos aceitável, já a distracção de quem as deixou neste estado não o é.

21.2.12

História 1

O lápis branco

A caixa trazia doze lápis de cor, vinham ordenados segundo um desenho dos mesmos numa das faces, a face que na estante da loja está virada para as crianças e os seus olhos redondos e brilhantes, a uma altura de um metro e vinte centímetros. Dos doze havia um que encerrava em si um mistério, um lápis que nenhum menino de metro e picos tinha encontrado até então uma utilidade, o branco. Este lápis, tal como os companheiros de caixa, era de madeira, recto e com seis lados, perfeitamente afiado, pintado de branco, com palavras escritas a dourado de um dos lados e com vinte e sete centímetros e meio de comprimento, não servia para nada.
Assim que a criança chegou a casa, foi cheirar os livros novos, foi decidir o que desenhar na primeira página do caderno de folhas lisas. Não se demorou, o importante era utilizar todos os lápis menos um, o branco. Aquele ia ter uma vida de miséria, não ia conhecer o exterior da caixa e não ia ser usado a não ser talvez, para ajudar a amassar plasticina, afinal ele não ia envelhecer e, portanto ia conservar o seu comprimento de origem, ideal para amolecer plasticina e fazer dela cobras.
Na escola, na sala, com plasticina por tudo que era paredes, chão, tecto e ar, um acaso quis que a criança parasse de amassar a plasticina rija.
Deu descanso ao lápis branco desconhecendo este o seu trágico fim naquela sala barulhenta, descontrolada, cansativa. O menino segurou o lápis com as duas mãos com os polegares estendidos e de ar ameaçador, prontos para vergar o lápis branco, preparados para lhe dar um destino injusto, um fim diferente dos seus colegas de trabalho.

As crianças são mais fortes do que pouca coisa, qualquer oportunidade para comprovar a sua força diminuta é-lhes bem-vinda, nem que seja espezinhar umas dezenas de insectos alheios a esta natureza infantil. Nem que seja quebrar ao meio um lápis inútil, mal querido por todos, no fundo, incompreendido.

Eis que os polegares dão início aos trabalhos e, lentamente, testando a resistência do corpo do desgraçado, entre gritos de silêncio de uma incompreensão dolorosa, o lápis perdeu a estrutura de fábrica, o comprimento de série, partiu-se em dois. A criança, de desejo e curiosidade satisfeita, desconhecedora da única razão daquela acção, com medo que alguém a acusasse de maltratar o material escolar, depressa afiou a parte do lápis que não deixaria provas do crime severo, tal era o sentimento de culpa. Colocou o novo lápis branco na caixa, quanto à outra metade, acabou num molho de material da sala, um verdadeiro poço sem fundo, adequado à ocasião.
A caixa estava reduzida a onze lápis e meio.
Em casa, na sala, a desenhar uma vez mais no seu caderno novo, a mãe pediu à criança para lhe mostrar o desenho pintado de branco. A criança, no mesmo segundo, sem pensar no que tinha feito há um par de dias disse que não tinha nenhum desenho pintado de branco porque o branco não servia para nada. A mãe perguntou então onde tinha gasto metade do branco.

O lápis que ano após ano conserva os vinte e sete centímetros e meio vingou, ironicamente recorrendo ao seu tamanho, a criança, não tendo escolha, contou a verdade e foi repreendida, logicamente por ser uma criança.

19.2.12

Ao centro da Terra

11.2.12

Observação 14

Dias que valem por dois

Ultimamente vive-se dia após dia, um dia não são dias aparece de quando em quando e quando damos por nós, os excessos vêm acompanhados de consequências que nos chegam a roupa ao pêlo. Repetimos o processo regularmente e chegamos sempre à mesma conclusão, um dia não são dias e este é um erro com o qual não aprendemos.