28.11.12

Fora do contexto, sobre o contexto

Nos próximos tempos a quantidade de desenhos que aqui vão aparecer vai ser muito menor do que a que vos tenho habituado. Procurarei publicar sempre que puder. Peço-vos que não desistam de dar uma olhadela de vez em quando. Obrigado.

25.11.12

Primeiro que a cidade


12.11.12

Matéria


17.10.12

De cima


15.10.12

Sem caminho























14.9.12

O poço



20.8.12

O muro



19.8.12

A jornada


16.8.12

O plano


Agonia do homem


12.8.12

Antes do mergulho


26.6.12

Observação 17

A vaidade é tanta que nunca saiu de casa com uma camisola que fosse virada do avesso. O tempo que despendia  em frente ao espelho era de sobra para dar conta da tragédia.

28.5.12

A miragem



27.5.12

A porta no muro



26.5.12

Beijo na testa


25.5.12

História 3

Breve história de um esfomeado

Não tinha trabalho, dinheiro, nem casa. Tinha fome. Essa era de graça. Não tinha amigos, nem tinha que fazer. Só bebia água, comia pão com pão e voltava a beber. Um dia o padeiro trocou para uma farinha mais barata. A fome era tanta e tão chata que o paladar não se incomodou, tinha emigrado para os lados do sonho. O pobre homem não deu por nada. Comeu e calou.

28.3.12

Dualidade

25.3.12

Ponte sobre

24.3.12

Buraco

23.3.12

História 2

Entrada ao minuto 5 do intervalo

A meio da manhã começa o intervalo. Na ansiedade, os miúdos saltam o lanche, outros comem à pressa e uns comem tudo porque tem que ser. No meio destes miúdos havia um que não abdicava do seu. Era sempre igual, sempre bom, sempre muito e sempre a mesma combinação perfeita, pão com queijo e marmelada. Enquanto enchia a pança, apreciava o início das brincadeiras, o momento em que decidiam o que jogar, se era às caçadinhas, às escondidinhas, à bola, o que fosse. E quando as equipas estavam feitas e prontas, era quando o miúdo acabava de comer os pães todos, quase sempre quatro, havia quem achasse um exagero mas a criança não pensava assim. Ao minuto cinco do intervalo, de estômago cheio e uma satisfação sem palavras, ele entrava em campo. Calhava bem porque só tinha que brincar, em vez de saltar o lanche, saltava a algazarra e a gritaria que acompanhava cada início de intervalo. Era sempre igual, bom, muito e perfeito.

19.3.12

Ano dois mil e muitos

inspirado neste projecto de Tito Mouraz

5.3.12

Observação 16

A serra fugiu e o céu, azul e de peito inchado, bramiu, com uma espada de azul profundo, o seu domínio naquela parte do mundo. Uma terra sem montes, com árvores e casas a tapar horizontes e, quem é dali, só tem uma paisagem, de um só sentido e com forte linguagem, o mar, perfeito para o sonho, suficiente para a vida.

25.2.12

A planta que queria um filho

24.2.12

Observação 15

Algumas ruas são inimigas do descanso, preenchidas de tudo que estorva, andar por elas é um exercício. Ou se olha para o chão para não pisar ou tropeçar ou para a frente para evitar beijar postes e outros acessórios desnecessários. Nestas a distracção é um risco mais ou menos aceitável, já a distracção de quem as deixou neste estado não o é.

21.2.12

História 1

O lápis branco

A caixa trazia doze lápis de cor, vinham ordenados segundo um desenho dos mesmos numa das faces, a face que na estante da loja está virada para as crianças e os seus olhos redondos e brilhantes, a uma altura de um metro e vinte centímetros. Dos doze havia um que encerrava em si um mistério, um lápis que nenhum menino de metro e picos tinha encontrado até então uma utilidade, o branco. Este lápis, tal como os companheiros de caixa, era de madeira, recto e com seis lados, perfeitamente afiado, pintado de branco, com palavras escritas a dourado de um dos lados e com vinte e sete centímetros e meio de comprimento, não servia para nada.
Assim que a criança chegou a casa, foi cheirar os livros novos, foi decidir o que desenhar na primeira página do caderno de folhas lisas. Não se demorou, o importante era utilizar todos os lápis menos um, o branco. Aquele ia ter uma vida de miséria, não ia conhecer o exterior da caixa e não ia ser usado a não ser talvez, para ajudar a amassar plasticina, afinal ele não ia envelhecer e, portanto ia conservar o seu comprimento de origem, ideal para amolecer plasticina e fazer dela cobras.
Na escola, na sala, com plasticina por tudo que era paredes, chão, tecto e ar, um acaso quis que a criança parasse de amassar a plasticina rija.
Deu descanso ao lápis branco desconhecendo este o seu trágico fim naquela sala barulhenta, descontrolada, cansativa. O menino segurou o lápis com as duas mãos com os polegares estendidos e de ar ameaçador, prontos para vergar o lápis branco, preparados para lhe dar um destino injusto, um fim diferente dos seus colegas de trabalho.

As crianças são mais fortes do que pouca coisa, qualquer oportunidade para comprovar a sua força diminuta é-lhes bem-vinda, nem que seja espezinhar umas dezenas de insectos alheios a esta natureza infantil. Nem que seja quebrar ao meio um lápis inútil, mal querido por todos, no fundo, incompreendido.

Eis que os polegares dão início aos trabalhos e, lentamente, testando a resistência do corpo do desgraçado, entre gritos de silêncio de uma incompreensão dolorosa, o lápis perdeu a estrutura de fábrica, o comprimento de série, partiu-se em dois. A criança, de desejo e curiosidade satisfeita, desconhecedora da única razão daquela acção, com medo que alguém a acusasse de maltratar o material escolar, depressa afiou a parte do lápis que não deixaria provas do crime severo, tal era o sentimento de culpa. Colocou o novo lápis branco na caixa, quanto à outra metade, acabou num molho de material da sala, um verdadeiro poço sem fundo, adequado à ocasião.
A caixa estava reduzida a onze lápis e meio.
Em casa, na sala, a desenhar uma vez mais no seu caderno novo, a mãe pediu à criança para lhe mostrar o desenho pintado de branco. A criança, no mesmo segundo, sem pensar no que tinha feito há um par de dias disse que não tinha nenhum desenho pintado de branco porque o branco não servia para nada. A mãe perguntou então onde tinha gasto metade do branco.

O lápis que ano após ano conserva os vinte e sete centímetros e meio vingou, ironicamente recorrendo ao seu tamanho, a criança, não tendo escolha, contou a verdade e foi repreendida, logicamente por ser uma criança.

19.2.12

Ao centro da Terra

11.2.12

Observação 14

Dias que valem por dois

Ultimamente vive-se dia após dia, um dia não são dias aparece de quando em quando e quando damos por nós, os excessos vêm acompanhados de consequências que nos chegam a roupa ao pêlo. Repetimos o processo regularmente e chegamos sempre à mesma conclusão, um dia não são dias e este é um erro com o qual não aprendemos.

27.1.12

Observação 13

Um microclima doméstico

Os pés frios de plantas geladas, por baixo de cobertores cor de terra, lá no fundo e longe do calor do tronco, não criam raízes, não dá. É um ambiente rigoroso, penoso, não se faz nada para além de rapar frio. Se chovesse ao fundo da cama nevava de certo.

19.1.12

Observação 12

Cansado desistiu. A ficção e o sonho foram para a mesma taça e quando a mistura foi dada como homogénea, caiu num sono cheio de promessas de abstracções gloriosas. Foi então que o livro abandonou as mãos do amigo, deitou-se ao seu lado e caiu na objectividade que lhe competiu.

16.1.12

A Terra tem pêlos verdes

15.1.12

Expressões de quem julga

12.1.12

O intocável

11.1.12

A mulher e o busto

O homem-girafa

9.1.12

Observação 11

A cabeça do império caiu, o império ruiu e, com o tempo, o que restou arruinou. A ruína essa, enfraqueceu, amochou e desapareceu.

5.1.12

A melancolia

2.1.12

Densidade